Durante os períodos frios do Pleistoceno (entre 2,588 milhões e 11,7 mil anos) e principalmente no Último Glaciar, o planalto superior da Serra da Estrela esteve coberto por um enorme campo de gelo. Este campo de gelo, no Último Máximo Glaciário, abrangia uma área de 66 Kms2, incluindo grande parte do planalto superior da serra. Esta massa de gelo alimentava um conjuto de sete glaciares de vale principais cujos gelos deslizavam em direcção à base da montanha arrastando com ele tudo o que se encontrava no seu caminho, moldando a paisagem e formando estes vales. Um deles é o vale do Zêzere, aquele que é o maior vale glaciário da serra da Estrela e um dos mais bem preservados desta tipologia (em “U”) a nível internacional/europeu.
Com uma extensão de cerca de 13Kms, estende-se desde o Covão Cimeiro, a montante do Covão d’Ametade, até à vila de Manteigas.
Em todo o vale é possível ver vestígios da última glaciação que criou impressionantes formas e depósitos glaciares, especialmente se tivermos em consideração a baixa altitude da Estrela e a sua localização geográfica no oeste da Península Ibérica. No extremo Sudoeste, no cimo da encosta, junto à Nave de Santo António, pode ver-se o “Poio do Judeu”, um bloco de granito com cerca de 150m3, o maior bloco errático da Estrela, trazido para aquele local pela força do glaciar.
A cabeceira do Zêzere surge enquadrada pelos imponentes Cãntaros Magro, Gordo e Raso (com 1928 metros de altitude) e no seu sopé o Covão d’Ametade onde, após a fusão do gelo, poderá ter existido uma lagoa de génese de origem glaciária que foi sendo depósito de sedimentos ao longo do tempo formando o local de incrível beleza que representa um dos mais visitados e fotografados locais da serra.
Hoje a presença humana funde-se na paisagem, é local de pastoreio e alguma agricultura no verão. Aqui vêm-se antigas “cortes”, casas de granito com telhados de colmo (que na maior parte foi substituída por chapas de zinco) onde os pastores guardavam o gado, que entretanto foram recuperadas e transformadas em casas de férias. No Inverno é normal verem-se fortes riachos e cascatas que rompem das vertiginosas encostas, fruto da fusão da neve no cimo das montanhas.
No fundo deste vale corre o rio Zêzere que ali nasce, aos pés dos imponentes Cântaros, no belíssimo Covão d’Ametade. Vai desaguar no Tejo, já longe da Serra, em Constância.
Agradecimentos a José Conde (CISE) e Gonçalo Vieira (IGOT)
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Visitar ou outro lugar, o importante é ir, porque "viajar é ir"...
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